quinta-feira, 19 de outubro de 2017

You Disappear (Du Forsvinder)

"You Disappear" dirigido por Peter Schønau Fog (A Arte das Lágrimas - 2006) flerta com a filosofia e a neurociência, é um drama familiar tenso que vai colocando em xeque questões morais. Somos conduzidos por uma trama fragmentada recheada de informações acerca da consciência, memória e livre-arbítrio. 
Professora, Mia (Trine Dyrholm) é casada com Frederik (Nikolaj Lie Kaas), um diretor bem-sucedido que é pego roubando da sua própria escola. Na dúvida se o marido fez isso por vontade própria ou devido ao tumor que cresce no cérebro dele, ela está desesperada para solucionar o caso e descobrir com que tipo de homem está casada. Enquanto pagava um advogado para defendê-lo, ela é forçada a se deparar com estudos de neurociência para repensar quem é Frederik.
Mia fica sem chão ao ser informada do tumor do marido e se desespera para que tudo se esclareça em relação ao crime, ela chama o advogado Bernard (Michael Nyqvist - uma de suas últimas aparições) para cuidar do caso e convencer o júri de que quando Frederik pegou o dinheiro da escola não estava consciente, houve uma série de sintomas para que ele agisse assim, as cenas no tribunal se mesclam com vários flashbacks mostrando o antes da cirurgia e voice-overs explicando estudos sobre a neurociência em relação à memória e o livre-arbítrio. Mia fica frágil psicologicamente com as mudanças drásticas de personalidade do marido, principalmente depois da operação e se apega ao advogado Bernard, um homem gentil que cuida de sua mulher que sofreu danos no cérebro devido um acidente, inclusive, eles fazem parte de um grupo que reflete e traz pesquisas sobre o assunto.
As discussões que surgem são intrigantes, mas são expostas de maneira muito didáticas, isso estraga um pouco, além de seu tom frio, mas graças as atuações de Trine Dyrholm, Michael Nyqvist e Nikolaj Lie Kaas a história se sustenta e não perde o fôlego, nossa curiosidade é aguçada, será que Frederik realmente teve todos os sintomas desencadeados pelo tumor em seu cérebro, ou cometeu o ato por puramente falha de caráter? É o que a esposa se pergunta o tempo todo. O quanto o conhece e o quanto ele mudou com o passar do tempo, e essas dúvidas a consomem e a deixam vulnerável. 
É preciso embarcar na proposta do longa, mesmo sendo um drama familiar intenso as emoções são distantes e o foco está mais no conteúdo filosófico acerca da mente e seus meandros. São inúmeras explanações sobre o mecanismo do cérebro e o comportamento humano, nossa fragilidade se algo acometê-lo, as mudanças que ocorrem com o tempo, o quanto as memórias são verdadeiras ou apenas criações de nossa imaginação, somos responsáveis pelo que nos tornamos ou o juízo dos outros nos molda? Somos puramente química, mas é a química ou o livre-arbítrio que nos governa?

Mia se perde nesse turbilhão e vivencia todas as modificações do marido e de sua vida com pesar, a fragilidade e carência a domina por completo, interessante observar o quanto o filho adolescente Niklas (Sofus Rønnov) fica à deriva nesta história, tem uma ou duas cenas emocionais em que ele reclama e diz o quanto sofre e desejaria que ela fosse mãe de verdade, e a declaração dele no tribunal sobre o pai e sua personalidade antes e depois do tumor. A complexidade das situações vão moldando os personagens e acompanhamos o ruir psicológico, principalmente de Mia, como vemos numa pequena reviravolta ao final retratando a vulnerabilidade de sua mente.

"You Disappear" pode soar redundante e frio, mas promove intrigantes debates acerca da consciência, memória, moralidade, livre-arbítrio, leis da natureza, a fragilidade humana e por aí vai... Para quem é curioso e tem sede de conhecimento é um prato cheio. 

Um comentário:

  1. O elenco chama a atenção e a história parece bem complexo.

    Vou colocar na lista.

    Abraço

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