terça-feira, 8 de agosto de 2017

Morfina (Morfiy)

"Morfina" (2008) dirigido por Aleksey Balabanov (Eu Também - 2012) reconstitui vigorosamente a prática médica em plena Revolução Bolchevique (1917). Um jovem médico determinado e talentoso precisa lidar com inúmeros empecilhos, tanto a sua insegurança, como a ignorância das pessoas. Um retrato sombrio de como um homem com tanto para fazer se envereda por um caminho desolador,  o vício em morfina.
Adaptação da história "A Country Doctor's Notebook", de Mikhail Bulgakov, baseada na experiência real do autor russo, quando, como um médico rural se tornou viciado em drogas, após uma pequena dose prescrita. Balabanov cuidadosamente reconstrói o momento em que Bulgakov cai nos braços da morfina, os anos da Revolução Russa, e mostra com rigor a aspereza da prática da medicina nesse período histórico.
Doctor Polyakov Mikhail Alekseyevich (Leonid Bichevin) sai da cidade grande e vai para um local afastado ficar no lugar de outro médico, lá conhece o paramédico e duas irmãs parteiras, se estabelece no quarto do médico antecessor repleto de livros, percebe que há bastante medicamentos e quando surge seu primeiro paciente na madrugada não consegue salvá-lo, o que cria uma situação estranha, já que foi por uma doença considerada infantil, Mikhail então terá que provar seu talento, senão o nome do médico anterior sempre será falado, deste episódio da difteria por ter tido contato com o paciente precisou tomar uma vacina, que lhe causou "reações", uma outra dose foi dada e esse foi o início de seu vício. Os burburinhos de uma revolução chegam e assim caminham os dias, frios e isolados. As passagens que envolvem cirurgias são as melhores, pois é macabro todos os equipamentos, medicamentos e maneiras, Mikhail exibe controle, mas é inseguro e toda vez sai para consultar os livros e volta e conduz tudo brilhantemente.
O humor está presente na trama que contém um contexto histórico pesado e ameniza o tom que ainda continua duro, a trilha sonora ajuda a compor o cenário e dar mais leveza, a trajetória desse jovem médico é triste, vê-lo se transformar em um esboço sendo que poderia fazer muito pelas pessoas e pela medicina. Sempre interessante histórias que abordam a medicina, os primórdios com suas técnicas e tratamentos assustadores, vários tipos de doenças infecciosas e as soluções que utilizavam. 

Após tomar a vacina de morfina como antídoto, o doutor já começa a sentir náuseas e ao sentir os efeitos toma isso como uma alergia e a enfermeira lhe aplica mais uma dose e essa dose nos dias que se seguem vão aumentando, aos poucos vemos sua deterioração e nisso o filme é primoroso, completamente visual, nada de imersão em sua mente, é no físico que se concentra e a degradação é terrível. O visual é o fator principal e são muitos momentos tensos em que Mikhail precisa agir, como uma amputação, uma traqueostomia, um parto podálico, onde não se poupa gritos, sangue, ruído de vísceras, dor e a fragilidade do corpo.

"Morfina" tem uma ambientação arrebatadora e passa com exatidão as sensações, desde as inseguranças, sejam elas em relação à medicina ou contexto político, como nos sentimentos e sensações fisiológicas dos personagens. Outra caraterística muito atraente é o realismo, as maneiras russas e o humor, além de muito gelo e escorregão e, claro, a vodca, que possui diversas utilidades!
Outra dica para quem gosta da temática é a série britânica "A Young Doctor’s Notebook" (2012) que também é baseada nessa história de Bulgakov, estrelada por Daniel Radcliffe e Jon Hamm. 

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