terça-feira, 18 de abril de 2017

Animais Noturnos (Nocturnal Animals)

"Animais Noturnos" (2016) dirigido por Tom Ford (Direito de Amar - 2009), estilista de prestígio e que também vem se consagrando como um grande cineasta, apresenta neste seu segundo trabalho um Thriller intrigante e elegante cuja narrativa nos enreda hipnoticamente, é uma história dentro de outra história, realidade e ficção que se unem e se colidem, uma metalinguagem arrebatadora.
Adaptado do livro "Tony & Susan", de Austin Wright, Susan (Amy Adams) é uma negociante de arte que se sente cada vez mais isolada do parceiro (Armie Hammer). Um dia, ela recebe um manuscrito de autoria de Edward (Jake Gylenhaal), seu primeiro marido. Por sua vez, o trágico livro acompanha o personagem Tony Hastings, um homem que leva sua esposa (Isla Fisher) e filha (Ellie Bamber) para tirar férias, mas o passeio toma um rumo violento ao cruzar o caminho de uma gangue. Durante a tensa leitura, Susan pensa sobre as razões de ter recebido o texto, descobre verdades dolorosas sobre si mesma e relembra traumas de seu relacionamento fracassado.
A narrativa é muito eficiente em demarcar as histórias que apresenta, primeiro temos Susan recebendo o manuscrito do ex depois de quase 20 anos sem se falarem, ela é uma mulher de poder, dinheiro, lida com uma galeria de arte, aliás, o prólogo totalmente artístico evidenciando uma de suas exposições é de tirar o fôlego, seu marido vive a viajar, sua vida é um profundo vazio, mas à medida que adentra na história do livro intitulado "Animais Noturnos" de seu ex-marido começa a relembrar e resgatar sentimentos do passado, uma angústia a invade querendo de algum jeito reverter o que aconteceu. Pela imaginação de Susan somos inseridos na trama do livro, que traz a figura de seu ex-marido na pele de Tony Hastings que partindo de carro para uma viagem com sua família é abordado por um grupo de jovens comandado pelo maluco Ray Marcus (Aaron Taylor-Johnson), são momentos muito tensos em que o protagonista se vê impossibilitado de agir e ajudar sua filha e esposa que são sequestradas. O livro é uma dolorosa metáfora do fim do romance entre Edward e Susan, que também acompanhamos em flashbacks, desde o início apaixonados até as desavenças sobre ele não ter ambições e Susan deixá-lo para ficar com seu atual marido.

Jake Gyllenhaal impressiona tanto nos instantes em que o vemos nos flashbacks, um homem calmo, sensível e passivo, tanto como Tony, que também carrega essa personalidade contemplativa, mas o personagem do policial, vivido por Michael Shannon consegue fazer com que ele coloque pra fora toda a raiva e agonia que está vivendo, em vários momentos o vemos descarregando esse desespero, os dois juntos são ótimos, vão atrás dos bandidos por conta própria e agem. 
Amy Adams compõe Susan de maneira sublime, uma mulher de personalidade egoísta que alcançou o sucesso, mas que vive uma grande insatisfação profissional, o vazio está em sua vida pessoal também com a ausência de afeto do marido. Ao receber o manuscrito, um sinal do ex depois de tanto tempo sente que talvez possa consertar as coisas. Há uma profunda reflexão sobre escolhas, Susan relembra todos os seus passos, questiona-se sobre ter escolhido a vida atual, o 'se' e o arrependimento pesa. 

 “Você já teve a impressão de que sua vida tomou um rumo que você jamais planejou?”

Mas mesmo depois de ler o manuscrito e acompanhar todo o processo de Tony/Edward exorcizar a sua dor, Susan pensa que pode encontrá-lo, então marca um encontro por e-mail, coloca seu sedutor vestido verde e vai... Edward sabendo da angústia e solidão em que Susan se encontrava e conhecendo sua personalidade egoísta criou uma expectativa muito grande nela em poder reencontrá-lo. Tudo saiu conforme planejado por Edward. O desfecho é perfeito, um grand finale silencioso, onde Susan é afogada em si mesma, no escuro vazio de si mesma.
"Animais Noturnos" passeia por vários gêneros, romance dramático, suspense violento e Thriller angustiante, além de fazer questão de que nas partes em que Susan lê o livro pareça realmente uma leitura, outro ponto é a beleza dos contrastes estéticos e, claro, a sua narrativa brilhante, instigante e original. 

Um comentário:

  1. A trama do livro é a mais interessante. As narrativas dos dois casamentos da personagem de Amy Ryan são mornas.

    Além de Amy Ryan e Gyllenhaal, vale destacar o ótimo Michael Shannon e um irreconhecível Aaron Taylor Johnson.

    Abraço

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