quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Que Traz Boas Novas (Monsieur Lazhar)

A trama se passa em Quebec, no Canadá, e conta a história de um imigrante argelino de meia idade - Sr. Lazhar (Mohamed Said Fellag) - que se apresenta para substituir uma jovem professora de ensino fundamental que decidiu dar um fim à sua vida na sala de aula da escola. Baseado na peça Bachir Lazhar de Evelyne de la Chénelière, "Monsieur Lazhar" é um filme sensível, tocante e comovente.
O Sr. Lazhar entra,  abruptamente na vida de um grupo de crianças, que encara um período extremamente delicado para elas, em que a maioria, ao se deparar pela primeira vez com a morte, tenta encontrar respostas, explicações e culpados para o acontecido. Cada um à sua maneira. Uns sofrendo mais, outros menos, mas todos de certa forma tocados pelo sentimento de perda. Enquanto isso, sem que as crianças nem ninguém saiba, o próprio professor Lazhar passa, ele também, por uma experiência semelhante de perda e de busca por respostas e culpados, vivendo um tão dolorido ou ainda maior período de luto. Assim, sem que nenhuma das partes esteja plenamente consciente, elas vão se ajudando.
Ao contrário do que se possa e imaginar, "Monsieur Lazhar" não é mais um daqueles filmes que mostram um professor aparentemente durão, que sendo aceito no princípio pela turma, consegue por meio de método diferente, inovador e infalível, mudar o rumo de toda a turma de alunos malcriados e violentos. A trama deste filme gira, na verdade, muito mais em torno de questões como morte, luto, culpa, abandono, compreensão e perdão do que em torno de metodologias de ensino. Há também um certo olhar atento para o choque cultural entre as maneiras de ensinar, mas certamente não é este o tema central. O filme de Philippe Falardeau não é uma obra de esteriótipos, de papéis bem delineados e rígidos, mas de personagens plausíveis de realidade, com suas qualidades, defeitos, fortalezas e fraquezas, nos sendo expostas plano a plano. "Monsieur Lazhar" é um filme que fala do ser humano como ele é: capaz de mentir, de sofrer, de se indignar, de amar, de perdoar, de perder, e mesmo assim tendo a capacidade de continuar.
A interpretação das crianças é magnífica, há uma cena em que Simon (Émilien Néron) desabafa sobre o suicídio de sua professora e diz que se sente culpado, seu choro é muito convincente, é impressionante e impossível não ficar com os olhos marejados. Alice (Sophie Nélisse) é uma garota solitária, inteligente e que mostra bastante maturidade para sua idade, e ela lida com o suicídio de sua professora de maneira muito particular. Já o Sr. Lazhar é um homem sofrido que entra em choque com a cultura, é um ser humano que busca uma forma de viver melhor, que sofre pelo seu passado, mas que transmite todo o carinho que sente pelas crianças, sua feição é de um homem sério, porém seus olhos emanam doçura, é um personagem muito bem construído em todas as suas nuances.

Há uma crítica muito suave sobre não poder ter contato com os alunos, seja em um abraço, ou em um mero tapa, que irá educar e não machucar, mas fica claro que não se pode ter nenhum contato de carinho ou de repreensão. Daria uma boa discussão, mas é só um fiapo nessa trama que envolve mais sentimentos do que conceitos.
É um filme bonito, comovente e como já disse, é daqueles em que se assiste com os olhos marejados.

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