quinta-feira, 14 de junho de 2012

O Palhaço

"O Palhaço" (2011) dirigido, roteirizado e protagonizado por Selton Mello é uma produção nacional que esbanja graciosidade, poesia e melancolia. 
Puro Sangue é o codinome de Valdemar (Paulo José), pai de Benjamim (Selton Mello), que nas noites de espetáculo assume a identidade do palhaço Pangaré. O roteiro do longa propõe atravessar do riso ao choro, explicitando em diálogos e observações o que se tem feito da vida naquela transitividade sem grandes laços. Benjamim, por exemplo, não carrega mais do que uma certidão de nascimento e é quase uma figura inexistente dentro da sociedade, rodando o Brasil sem identidade e ressentido-se pela crença da ilusão de seus feitos, almejando diariamente fugas. Essa busca por respostas do protagonista acarreta também uma relação curiosa com um objeto: um ventilador. É como se ele precisasse do produto como completude de um vazio, seria a solução da falta que sente de coisas a qual é privado. Tal sugestão é dada em um ato por um personagem ao referir-se sobre o calor assolador. Remete apego a algo, a qualquer coisa que faça sentido, sem temer o absurdo que pareça. Bons personagens complementam a obra, cujas atuações dignificam. Além de Paulo José em estado de graça, o elenco ainda conta com Moacyr Franco, Emílio Orciollo Neto, Jackson Antunes, Jorge Loredo e Danton Mello em breves e ótimas aparições.
Benjamim se encontra numa época complicada da vida, em que se pergunta se sua real vocação está mesmo no circo. Um dia, ele decide largar sua trupe para se resolver e buscar o que tanto falta em sua vida. Ao mesmo tempo, acompanhamos a história através dos olhos de uma menina, filha de um dos casais da trupe, chamada Guilhermina (Larissa Manoela). A beleza de "O Palhaço" se encontra nos seus personagens, seja no protagonista e sua emocionante busca pessoal, a menina Guilhermina, dona do arco dramático mais lindo do filme, ou mesmo os divertidos coadjuvantes. Todos são igualmente importantes para o filme funcionar. Antes de tudo, a trama fala de família, portanto, não é de se espantar que todas as figuras do simpático circo Esperança demonstrem tamanha alegria de trabalhar, principalmente, quando estão todos juntos. E assim, conseguem enfrentar todas as outras criaturas grotescas e engraçadas que habitam o filme, desde os prefeitos das cidades que visitam, até o hilário delegado apaixonado pelo seu gato. Portanto, fica impossível não sentir uma pontinha de tristeza quando vemos Pangaré abandonar sua trupe. Vagando sozinho como uma sombra, essa jornada se faz importante para se autoafirmar. São momentos dotados de delicadeza, Benjamim então descobre que sua vocação foi encontrada, ele é e sempre será o palhaço Pangaré.

"O Palhaço" é um belo filme que é capaz de tirar lágrimas e ao mesmo tempo risos, afinal quem nunca se sentiu perdido diante a vida e precisou experimentá-la de uma outra forma, até que percebe que estava tudo no seu devido lugar, e que tudo não passou de um desconforto interior.
Benjamim precisava sair de seu mundo para encontrar a si mesmo, pois como o pai dizia: "Gato bebe leite, rato come queijo e eu sou palhaço". Devemos fazer o que sabemos, o que está dentro de nós e fazê-lo com amor.
É um filme bem amarrado e um exemplar nacional raro. É como o principal objeto ao longo da história: um ventilador, que traz uma nova brisa refrescante num mar quente e monótono. Sempre é hora de redescobrir-se.

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